Esta é uma questão polêmica, de difícil resposta e que divide opiniões. Será que uma Equipe Scrum pode realmente viver sem um Scrum Master? Há os que defendam que sim e os que imaginam que isso só é possível na teoria. Mas já que é possível na teoria, por que temos tantas dúvidas de que na prática também é possível?
A ideia de que o Scrum Master é "dispensável" pode ser concluída a partir da própria definição do seu papel. Essa definição diz que o Scrum Master é um líder-servidor e sua responsabilidade se resume em manter a Equipe Scrum no trilho do processo, buscando sempre alcançar melhorias que aumentem a qualidade do trabalho e, por consequência, a satisfação da Equipe Scrum com o produto que está sendo construído. Se o Scrum Master for espetacular, teoricamente, ele conseguirá levar sua Equipe a trabalhar sem a necessidade do seu apoio e, logo, se tornará dispensável. Essa é a teoria.
Na prática, esse objetivo de tornar a Equipe independente do Scrum Master encontra impedimentos que podem ser explicados pelo teoria de construção de um time, de Bruce Tuckman. Nessa teoria, a tarefa de construir um time passa por 4 estágios, são eles:
1. Forming: neste estágio, o time está começando a se conhecer, todos estão animados, positivos e querem construir um bom relacionamento com os demais. Nesse momento, o papel de um líder é essencial porque ainda há muita incerteza em relação à papéis e responsabilidades de cada um.
2. Storming: neste estágio, é normal surgir questionamentos aos objetivos estabelecidos, além de conflitos. Esses conflitos podem aparecer porque as características de cada membro da equipe começam a florescer e podem começar a surgir frustrações com o andamento do projeto ou com o processo de trabalho. Neste ponto, é preciso estabelecer claramente os processos de trabalho, os combinados e, de fato, começar a construir a relação de confiança que deve existir em um time.
3. Norming: agora o time começa a se ajustar, a resolver seus conflitos e estabelecer uma relação de respeito. As pessoas começam a se socializar mais, se ajudar mais e o compromisso com os objetivos do projeto aumenta. Neste momento, é bom começar a delegar atividades e deixar que as pessoas do time comecem a tomar responsabilidade pelo progresso atingido.
4. Performing: neste estágio é fácil ser parte do time, mudanças de equipe não alteram muito o desempenho e novos desafios são bem recebidos e vistos como mais um degrau a subir para alcançar o objetivo do time. É neste momento que o líder pode começar a se distanciar e focar em outros objetivos de trabalho. O time já está pronto para seguir com o bom trabalho que está sendo realizado.
Há ainda um último estágio, Adjourning, que é quando a Equipe é desfeita, seja porque o projeto acabou ou porque a Equipe foi desmembrada.
O que fica claro através dessa teoria é que, a medida que uma Equipe avança e amadurece, a necessidade da existência de um líder para direcionar o trabalho e lidar com problemas e conflitos é cada vez menor, porque a própria Equipe consegue se ajustar e se sair bem de situações inesperadas. Sendo assim, ainda na teoria, se temos uma Equipe que está "performando", ela pode sim sobreviver sem um Scrum Master porque ela será um time tão sólido e bem formado, que conseguirá seguir o processo Scrum e produzir valor sem o apoio de um líder-servidor.
Depois de tudo que foi exposto, eu volto a perguntar: dado que temos uma Equipe que já trabalha junto há bastante tempo, que já tem "no sangue" todos os conceitos do processo Scrum, que já está performando, será que essa Equipe pode viver sem um Scrum Master?
Na teoria sim, mas na minha opinião não. É claro que essa Equipe terá um nível de independência do Scrum Master muito maior e conseguirá seguir performando sozinha. O problema é que novos desafios sempre aparecem e, acima de tudo, a Equipe está comprometida com o produto e não com o processo. O processo é o meio que permite que eles atinjam o objetivo final estabelecido. O fato de não ter ninguém na Equipe com este foco pode fazer com que situações inesperadas desvirtuem a Equipe do processo de trabalho que está sendo bem realizado, e é possível até que isso leve a Equipe a regridir e deixe de performar.
É claro que essa é a minha opinião e opiniões divergentes sobre este assunto podem existir. Por exemplo, para você, até quando uma Equipe precisa de um Scrum Master?
Referências:
Forming, Storming, Norming, and Performing – Understading the stages of a team formation
Muito bom o post.
Acho que em determinados momentos, de acordo com a maturidade da equipe e com situações do projeto de fato o trabalho do Scrum Master pode ficar bastante reduzido. Mas concordo com você, acho que sempre é interessante ter o papel do Scrum Master sendo desempenhado.
O Scrum Master, por não fazer parte da equipe de desenvolvimento, e por isso tende a ter uma visão diferenciada tanto do andamento do projeto como da Sprint. Pegando apenas um exemplo, por ter essa visão, acho que ele tem uma facilidade maior de perceber possíveis atrasos e alertar a equipe para que alguma solução seja encontra a tempo.
Oi Caio, tudo bom?
Que bom que você gostou do post! Acho que esse exemplo que você citou está intimamente ligado ao que comentei sobre o foco da equipe de desenvolvimento ser sempre o produto. A galera está tão focada em desenvolver a solução que esquece um pouco do que está acontecendo em volta e é realmente importante ter o SM lá para mostrar que a estratégia escolhida tem que mudar para que o resultado da Sprint seja entregue com sucesso ao final dela.
Acho ainda que essa “visão de fora” também faz com que o SM perceba pontos de melhoria no processo de trabalho da equipe que ela mesma não percebe. Por ter essa visão, ele tem a oportunidade de ir trabalhando esses pontos de melhoria que talvez não fossem atacados se a equipe estivesse sozinha.