Acho que posso começar este post sendo bastante sincera e assumindo que a ideia de equipe auto-organizável é muito bonita na teoria… mas e na prática? Os benefícios são inúmeros, dizem por aí. Mas como tornar uma equipe auto-organizável? Como é possível mudar a dinâmica de trabalho de uma equipe acostumada a ser direcionada por um gerente?
Infelizmente, a resposta não é simples. Acredito que muitas empresas, quando começam a aplicar o Scrum, passam pela dificuldade de mudar o pensamento de sua equipe em relação a quem deve gerenciar o trabalho agora. Ao meu ver, o meio de tornar essa fase de transição menos traumática está em gerar, entre os membros do seu time, a necessidade de se auto-organizar. Pode parecer estranho, mas em um primeiro momento, é essa necessidade que vai mover a auto-organização da equipe e nós vamos ver porquê através das seguintes perguntas:
O seu time entende qual é seu papel dentro de um projeto Scrum?
O primeiro ponto que devemos prestar atenção é se a equipe entende qual é o seu papel dentro de um projeto Scrum. É preciso estar claro para todos que quem deve criar o Sprint Backlog (SB) junto ao PO, determinar como e quando cada item do SB será feito e apresentar o que foi produzido ao fim da Sprint é do time e de mais ninguém. Ao esclarecer, para todos, que o resultado de uma Sprint é de total responsabilidade do time, é possível despertar nas pessoas o senso de comprometimento necessário para que o trabalho seja realizado.
Ok. Temos responsabilidade e comprometimento… mas e a auto-organização?
Ela virá naturalmente. Se o time aprende que a responsabilidade do trabalho apresentado na Reunião de Revisão é dele, ele buscará formas de organizar a execução do trabalho de forma que no fim da Sprint tudo esteja de acordo com o que o PO espera. Ninguém gosta de ter um trabalho reprovado, não é verdade? A partir do momento em que os membros do time entendem que eles precisam uns dos outros para cumprir o que eles mesmos combinaram com o PO, e que o peso da reprovação de uma história cai sobre eles, e apenas sobre eles, a auto-organização surgirá automaticamente.
Mas se é tão mágico assim… onde foi que eu errei?
Responder essa pergunta é um pouco difícil, mas é possível levantar alguns pontos que podem ter interferido no sucesso da auto-organização da sua equipe.
O primeiro deles é se o seu gerente, ao adotar Scrum, virou Scrum Master (SM), mas não deixou de ser gerente. Isso acontece quando o SM ainda retém para si a responsabilidade de coordenar a equipe, delegar tarefas e responder pelo trabalho produzido. Lembre-se, agora, isso tudo é trabalho do time e é preciso ter confiança de que a equipe é capaz de lidar com essa nova situação. O SM deve estar sempre presente e atento, deixando claro que ele está lá apenas para dar suporte à equipe, com o processo Scrum e com possíveis impedimentos encontrados, mas ele não deve interferir na auto-organização da equipe.
O segundo ponto é que, talvez, a comunicação entre os membros da sua equipe tem que ser trabalhada e melhorada, e aí está a importância da Reunião Diária. Não adianta o seu time ter consciência de sua responsabilidade e da necessidade que um tem do trabalho desempenhado pelo outro se não conseguem identificar o que cada um está fazendo e os impedimentos que estão encontrando. Nesse momento, o SM tem que garantir que as Reuniões Diárias sejam realizadas e que o time converse sobre o que fizeram, o que vão fazer e se tiveram algum problema. Não parece, mas responder essas 3 perguntas diariamente faz com que a equipe se organize, gerencie o que está sendo feito e identifique pontos de risco na Sprint em andamento.
O terceiro ponto é necessário que o projeto tenha a participação ativa do Product Owner (PO). É preciso que o PO do projeto esteja presente e de fato cobre resultados da equipe ao final de cada Sprint. A equipe tem que sentir que existe um compromisso entre ela e o PO e que ele tem que ser cumprido. Se o PO não está comprometido e não avalia a execução do trabalho, o sentimento de responsabilidade e comprometimento que buscamos na equipe se perde. E aí perdemos também a necessidade de auto-organização.
O último ponto está na Reunião de Retrospectiva, cujo objetivo é melhorar o processo de trabalho do time. Se o SM identificou que a auto-organização está falha, ele deve levantar essa questão com a equipe e deixar que eles encontrem maneiras de melhorá-la.
Mudar o modo de trabalho de uma equipe não é simples e não acontecerá automaticamente. A ideia é gerar o sentimento de responsabilidade e comprometimento no time e ter o SM apoiando o processo, auxiliando, sem interferir no trabalho realizado. Lembre-se, no início, será uma questão de necessidade. Com o tempo, será o modo de trabalho estabelecido.
Olá Rafael! Que bom que gostou do post!
Concordo com seus comentários. Realmente algumas pessoas podem ter maior dificuldade com a auto-organização do que outras, mas acho também que quem está responsável por essa transição de cultura tem que procurar, ao máximo, despertar nos membros da equipe os sentimentos que você falou: determinação, responsabilidade e comprometimento. Às vezes essas são características que ficaram adormecidas devido ao modo de trabalho e, quando estimuladas, elas podem vir à tona e até surpreender.
Abraços!
Olá Paula,
muito interessante o artigo.
Tenho visto que as pessoas estão acostumadas e gostam de suas "zonas de conforto" e mudar este quadro requer de cada membro, coragem e força. Ser auto-organizado e por consequência transparente, digamos assim que não é pra qualquer um, tem que ter determinação, responsabilidade e o comprometimento entendido do seu papel dentro do projeto.
Abçs