Uma questão importante em cursos de SCRUM é como fazer uma simulação interessante e que permita aos alunos aprender como o método funciona. Apesar da grande parte dos alunos que tenho ensinado trabalhar na área de desenvolvimento de software, é muito difícil aplicar o SCRUM em um projeto de software durante um curso de poucas horas.

Quando fiz meu curso para a certificação CSM o exercício era fazer um cartaz de convite para um evento. Era um bom exercício, porém como o cartaz é basicamente um objeto único, ele tem problemas na hora de permitir o paralelismo. Após usar esse exercício em algumas aulas, mesmo com excelente resultado na dinâmica e na reação dos alunos, comecei procurar um exercício mais parecido com algumas necessidades que eu via como necessárias:

  • Cada grupo deveria possuir um P.O. que tivesse alguma liberdade na decisão do que fazer. No exercício do pôster, como eu trabalhei, a liberdade era muito pequena, para permitir que o instrutor tivesse uma boa definição do conceito de valor.
  • O valor de cada parte deveria ficar bem claro.
  • Cada parte deveria poder ser feita aos poucos. Outro defeito do pôster é que cada parte basicamente tem que ser feita inteiramente ou não ser feita.
  • Deveria ser possível a criação de histórias e tarefas.
  • O trabalho deveria poder ser paralelizável.
  • Deveria ser divertido.

Pesquisando um pouco eu encontrei algo que me pareceu um ótimo exemplo: construir uma cidade de Lego®. Ótimo exercício, divertido e trazendo a criatividade, porém com um grande defeito: muito caro! Como conseguir dezenas de peças de Lego®, suficiente para exigências de várias cidades, aos preços que pagamos no Brasil por um caixa desse brinquedo? Pensei mesmo em "assaltar" a caixa de Lego® de meu filho, mas nem assim teria tantas peças quanto necessário para vários grupos.

Nesse momento entrou o famoso jeitinho. Baseado no mesmo exercício eu comprei um "kit de criatividade": papel de desenho branco, papel "criativo" colorido, papel cartão (um pouco mais duro), cola, tesoura, régua, lápis preto, borracha, apontador e lápis de cor. Além do "kit de criatividade", ainda coloquei post-its (genéricos, que são mais baratos) e uma pasta para guardar tudo facilmente. Custo total: R$ 65,00!

O desafio: construir uma maquete 3D de uma cidade.

Como um dos meus problemas com o exercício do pôster era o excesso de limitações, fiz um exercício sem muitos parâmetros fixos, os POs receberam apenas uma descrição do que eu desejava da maquete de uma cidade:

  • Uma folha de papel A4 era o terreno que podia ser desenhado para algumas características,
  • Os prédios deveriam ser 3D, e
  • Deveriam existir pelo menos 3 prédios públicos e 1 prédio residencial no final do projeto.

O resultado do exercício uma ótima sessão de treinamento, onde o melhor elogio foi dado por um aluno: "Durante a aula eu não entendi muito bem como funcionava. O exercício foi essencial".

Como lição da primeira experiência, pude observar:

  • Foi muito mais divertido para os grupos fazer a maquete do que o pôster.
  • O paralelismo funcionou bem.
  • Soluções criativas apareceram e foram copiadas. Um grupo usou papel cinza para fazer as ruas em paralelo, sem necessidade de desenhar no "terreno". Vários grupos usaram papel vermelho para um prédio de bombeiros. Um grupo criou árvores (em paralelo) e fez um parque em 3D.
  • O exercício foi dado no final, talvez fosse melhor dar o exercício aos poucos, para que os alunos tivessem mais interação durante a aula, mas isso diminuiria o impacto do desafio. Quando receberam a instrução de fazer a maquete eles ficaram surpresos e aceitaram bem o desafio. A perda da surpresa pode ser um fator de desmotivação.
  • O tempo curto que deixei para o exercício, só 75 minutos no final da aula, prejudicou principalmente o discussão crítica do que está sendo feito.
  • Duas sprints de com 25 minutos de execução são suficientes para construir a maioria dos exemplos necessários. Mas não tivemos tempo de fazer a retrospectiva de forma "oficial" ou um "scrum diário". Trabalhamos mais no planejamento e review.
  • Um grupo planejou muito e fez pouco no primeiro sprint. Isso também acontecia no exercício do pôster e é facilmente corrigido na segunda sprint.
  • Um grupo adicionou pouco valor na segunda sprint e chamei a atenção disso.
  • Ao fazer a revisão ela deve ser feita em relação ao planejado e não em relação a beleza do modelo.
  • Os grupos tendem a "roubar", fazer sem executar a reunião de planejamento e o product backlog e sprint backlog. É importante vigiar e exigir tanto o product backlog quanto o sprint backlog antes que eles comecem a trabalhar.
  • Quando um grupo "roubou" eu mudei o projeto deles, pedindo um aeroporto e não uma cidade. Eles tiveram que jogar fora o trabalho anterior, que tinha sido feito sem planejamento, e começar de novo. No final fizeram um belo trabalho, inclusive com melhorias no modelo do avião na segunda sprint.
  • Quando o grupo não consegue entregar uma história deve se mostrar como poderiam entregar histórias se tivessem dividido a história incompleta em histórias menores. Por exemplo, um prédio pode ser dividido em "corpo do prédio" e "telhado do prédio".
  • O kit de criatividade apresenta quantidade limitada de recursos, o que obriga os scrumasters a negociar itens como tesouras e réguas, dando um exemplo de tratar impedimentos.
  • Um grupo conseguiu calcular a velocidade do primeiro sprint para planejar o segundo. Tenho que lembrar de chamar a atenção de todos para isso.

Como só tenho 6 horas para fazer essa introdução ao Scrum, Na próxima aplicação vou guardar mais tempo e fazer todas as reuniões possíveis. Para isso terei que cortar algum material teórico, mas está claro que a prática deixa tudo muito mais claro.

Tudo certamente ficaria melhor se eu tivesse como fazer os alunos usarem o ScrumHalf nessa aula!

Alguém pode contar outras experiências de treinamento?